A hérnia inguinal é uma condição muito comum em crianças e necessita de tratamento cirúrgico, uma vez que não regride espontaneamente.
Diferentemente da hérnia inguinal do adulto, que é resultante da fraqueza da parede posterior do canal inguinal, a hérnia inguinal da criança se faz pela persistência do conduto peritônio-vaginal (canal que comunica o abdome com a região inguinal e inguino-escrotal).
A hérnia inguinal corre em 3 % das crianças nascidas a termo e, nos prematuros, em torno de 8%. Os meninos são mais acometidos que as meninas na proporção 9:1.
A hérnia inguinal se manifesta como uma tumoração ou saliência inguinal, geralmente associada ao choro ou situações de aumento da pressão intra-abdominal como tosse, riso, atividades físicas ou evacuação. Na maioria das vezes, ela é redutível espontaneamente ou com manobras digitais (compressão).
A criança com hérnia inguinal pode não apresentar sintomas graves, apenas uma tumoração não dolorosa em região inguinal que desaparece espontaneamente com o repouso ou ao deitar, mas, em alguns casos, a hérnia pode causar dor e evoluir com encarceramento ou estrangulamento de seu conteúdo. Ou seja, o intestino pode ficar retido no saco herniário. Nesta situação, devido à compressão intestinal, a criança apresenta dor intensa, choro e irritabilidade associados a náuseas ou vômitos e abaulamento na região inguinal persistente.
Além do risco de necrose intestinal, a alça herniada nos meninos pode causar a compressão do cordão espermático, comprometendo o fluxo sanguíneo para o testículo, gerando sofrimento do órgão e até mesmo a sua perda. Nas meninas, o ovário pode ficar encarcerado e pode sofrer uma rotação ou torção, com sofrimento vascular e risco da perda do mesmo. Quando a hérnia inguinal se torna encarcerada, ou seja, não redutível, em função do risco de complicações graves, a criança deve ser levada imediatamente para a emergência pediátrica.
Os riscos de complicações das hérnias inguinais são maiores nos lactentes, principalmente nos primeiros 6 meses de vida. Portanto, ocorrendo a suspeita da hérnia inguinal ou havendo o diagnóstico, a criança deve ser encaminhada e avaliada pelo cirurgião pediátrico, que é o especialista apto a orientar e oferecer o melhor tratamento, podendo inclusive reduzir riscos cirúrgicos.
A herniorrafia inguinal é um dos procedimentos cirúrgicos mais comuns realizados pelos cirurgiões pediátricos. O procedimento é realizado sob anestesia geral, geralmente em regime de hospital-dia, exceto em recém- nascidos prematuros que exigem internação hospitalar por 24 horas.
É muito importante que os pais ou cuidadores da criança fiquem atentos ao aparecimento de sinais em seu corpo tais como abaulamentos, nódulos ou saliências na região inguinal - e ao notar qualquer condição anormal, a recomendação é a de procurar atendimento médico especializado, viabilizando diagnóstico e tratamento mais precoces.
Dra. Ana Paula Melro CRM 82303 é médica especialista em Cirurgia Pediátrica pela Sociedade Brasileira De Cirurgia Pediátrica, com Mestrado em Cirurgia pela UNICAMP.